Good Mourning / Black Friday

Ritual sombrio e violência em “Good Mourning / Black Friday”

Em “Good Mourning / Black Friday”, o terror retrata uma mente dominada por forças externas, ecoando o contato de Dave Mustaine com o ocultismo via Dijon Carruthers. A divisão entre a intro melódica “Good Mourning” e a avalanche de “Black Friday” espelha a passagem do luto silencioso para o transe homicida. O ponto de possessão surge em “Hey, I don’t feel so good / Something’s coming over me” (Ei, não estou me sentindo tão bem / Algo está tomando conta de mim), até que a voz se assume “bloodthirsty demon” (demônio sedento de sangue). A narrativa segue o assassino que ronda e escolhe vítimas — “I lurk in the alleys, wait for the kill” (Eu espreito nos becos, espero para matar) —, descrevendo mortes com precisão sádica: “My hammer’s a cold piece of blood-lethal steel / Swinging the hammer, I hack through their heads” (Meu martelo é um pedaço frio de aço letal / Balançando o martelo, eu despedaço suas cabeças). O refrão “Killer, intruder, homicidal man” (Assassino, intruso, homicida) fixa a identidade monstruosa, enquanto a aceleração instrumental encarna a escalada até “I see you, and I’m waiting, for black friday” (Eu vejo você e estou esperando pela sexta-feira negra). Aqui, “Black Friday” é data sombria escolhida para o massacre, não consumo.

As imagens reforçam a vertigem: o trocadilho mourning/morning sugere luto e amanhecer; “blood baths are my way of getting clean” (banhos de sangue são meu jeito de me purificar) junta purificação perversa e eco de rito sacrificial. “Paint the devil on the wall” (pintar o diabo na parede) pode ser invocação literal do mal ou a materialização do pior cenário. O flerte com o espiritual sombrio explica o desconforto posterior: a banda deixou de tocar a faixa após 1991 por causa das convicções cristãs de Mustaine, que afirmou que “a magia negra arruinou minha vida”. Sem ser single, a música virou favorita dos fãs pela potência musical e por expor um conflito central na obra: fascínio e repúdio pelas forças que encena.