obZen

A crítica à paz corrompida em “obZen” do Meshuggah

A música “obZen”, do Meshuggah, aborda o paradoxo de uma humanidade que encontra equilíbrio e até uma espécie de paz interior ao aceitar e celebrar a obscenidade, a corrupção e a decadência. O próprio título, que une as palavras “obscene” (obsceno) e “Zen”, já indica essa contradição: a ideia de que a perfeição e a harmonia são atingidas não apesar, mas justamente por meio do caos e da sujeira. Isso aparece claramente em versos como “A state of perfection, immersed in filth / Equilibrium obtained” (“Um estado de perfeição, imerso na sujeira / Equilíbrio alcançado”) e “Pure in devotion to all things unwell” (“Puro na devoção a tudo que está doente”), que ironizam a busca por pureza em meio à degradação.

O contexto do álbum reforça essa crítica, mostrando como a sociedade moderna normaliza e até encontra conforto em valores e comportamentos degradantes. A letra menciona um “novo sistema de crenças” onde “salvação é encontrada no vômito e no sangue”, e onde “corrupção, guerra e dor são Deus”. Essa inversão de valores sugere que sofrimento e violência se tornaram centrais para a experiência humana, e que o equilíbrio (Zen) é buscado em meio à decadência. O refrão “Decay, disgrace, disgust – our state of zen” (“Decadência, desgraça, repulsa – nosso estado de zen”) resume essa visão, mostrando que a paz contemporânea se constrói sobre a aceitação da decadência. A imagem final, “flourish in this bloodred soil” (“florescer neste solo ensanguentado”), reforça a ideia de que prosperamos justamente nesse ambiente corrompido, tornando a mensagem da música um comentário sombrio e direto sobre a condição humana.