Handstand

“Handstand” sob neon: poder, inversão e afeto duradouro

Em “Handstand”, a parada de mãos não é só acrobacia sexual: é um gesto que vira o mundo de cabeça para baixo e coloca Miley no comando do desejo e do ritmo. A introdução falada em clima de delírio — “neon dinghy” (bote neon), raias‑manta, cometas e a figura de Big Twitchy — cria um cenário de fuga e euforia que dialoga com o “hino neon” associado ao álbum. A coautoria com Harmony Korine e Maxx Morando ajuda a explicar o tom cinematográfico e hedonista: Korine aciona o surreal luminoso, Morando (parceiro e produtor) dá físico e intimidade, e Miley organiza essas imagens para falar de liberdade, escapismo e inversão de perspectiva.

Quando o refrão estoura, o neon vira corpo e controle. “You’re questioning the science… in a fucking handstand” (Você está questionando a ciência… em uma porra de parada de mãos) transforma habilidade sexual em manifesto de poder. Ela dita o ritmo — “We took it kinda fast, but you’re putting it slow” (A gente foi meio rápido, mas você está indo devagar) —, provoca o espanto do outro — “It’s like you saw a unicorn” (É como se você tivesse visto um unicórnio) — e afirma autonomia com duplo sentido em “My other one is busy, so I use my left hand” (Minha outra está ocupada, então eu uso a mão esquerda). No meio da ousadia, surge desejo de permanência: “I wish I could crawl inside your heart… take you captive” (Queria poder entrar no seu coração… te manter cativo). A jornada emocional vai da euforia psicodélica à provocação confiante e desemboca num anseio terno por conexão, antes de retornar ao refrão como quem escolhe de novo a liberdade e o êxtase sob luzes de neon.