A Felicidade

Ecos de “A Felicidade”: carnaval, tempo e melancolia

Clássico associado à leveza da bossa nova, “A Felicidade” sustenta uma visão dura da vida: “Tristeza não tem fim / Felicidade sim”. Na voz de Milton Nascimento (1970), essa ideia se torna mais melancólica, com ênfase no tempo que passa e no desmanche dos instantes felizes. Composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes para Orfeu Negro, a canção dialoga com o filme e com o Carnaval: “A felicidade do pobre parece / A grande ilusão do carnaval… / e tudo se acabar na quarta-feira” faz referência à Quarta-feira de Cinzas, quando a euforia termina. Não por acaso, abriu o longa (na voz original de Agostinho dos Santos), que ajudou a projetar a bossa nova internacionalmente. O Carnaval vira metáfora social: trabalha-se o ano inteiro por um sonho breve que, por natureza, se desfaz.

As imagens reforçam a fragilidade da alegria. A gota de orvalho que “brilha tranquila… / e cai como uma lágrima de amor” traduz um brilho curto que vira perda; já a pluma “precisa que haja vento sem parar”, indicando que a felicidade depende de condições externas. Entre o coletivo e o íntimo, surge um refúgio amoroso: “A minha felicidade está sonhando / Nos olhos da minha namorada”, instante delicado que também passa — “É como esta noite / Passando, passando / Em busca da madrugada”. O pedido “Falem baixo, por favor” tenta proteger esse descanso, mas o refrão retorna — “Tristeza não tem fim / Felicidade sim” — para lembrar que, no ciclo da vida e nas desigualdades evocadas, a alegria é episódica, enquanto a tristeza insiste em permanecer.