Coyote

Relações transitórias e liberdade em "Coyote" de Joni Mitchell

A música "Coyote", de Joni Mitchell, aborda a tensão entre o desejo de conexão e a distância emocional típica de relacionamentos passageiros. Inspirado em Sam Shepard, o personagem-título é retratado como alguém livre, que evita compromissos e rotinas. Isso simboliza tanto o fascínio quanto a frustração de se envolver com alguém inatingível. A diferença entre os mundos de Mitchell e Shepard fica clara em versos como “We just come from such different sets of circumstance” (Viemos de circunstâncias tão diferentes), além das imagens contrastantes de “brushing out a brood mare's tail” (escovando o rabo de uma égua) e “getting home with my reel to reel” (chegando em casa com meu gravador de rolo), mostrando vidas que se cruzam, mas não se encaixam.

A solidão, mesmo na intimidade, aparece em versos como “Just how close to the bone and the skin and the eyes / And the lips you can get / And still feel so alone” (O quão perto do osso, da pele, dos olhos e dos lábios você pode chegar e ainda assim se sentir tão sozinho). A letra sugere que, apesar da proximidade física, existe uma barreira emocional difícil de superar. O "coyote" representa o impulso de fuga e busca por liberdade, tanto do personagem quanto da narradora, que se reconhece como “a prisoner of the white lines on the freeway” (prisioneira das linhas brancas na estrada), presa ao movimento constante e à impossibilidade de criar raízes. O contexto da turnê Rolling Thunder Revue reforça essa sensação de desencontro e transitoriedade.

A canção também explora a ambiguidade dos relacionamentos, como nos versos “he has a woman at home / He's got another woman down the hall / He seems to want me anyway” (ele tem uma mulher em casa / tem outra mulher no corredor / e mesmo assim parece me querer), expondo desejo, culpa e a inevitabilidade de situações complexas. O tom melancólico e a instrumentação jazzística de Jaco Pastorius acentuam a sensação de solidão e incompletude, tornando "Coyote" um retrato honesto de encontros marcantes, mas destinados a não durar.