Cyдно (Sudno)

Solidão e angústia existencial em “Cyдно (Sudno)” do Molchat Doma

“Cyдно (Sudno)”, do Molchat Doma, mergulha o ouvinte em um cotidiano marcado pela monotonia e pelo confinamento, refletidos na repetição de elementos como “Эмалированное судно” (recipiente esmaltado), “окошко, тумбочка, кровать” (janela, criado-mudo, cama). Esses objetos simples e presentes em ambientes de isolamento, como hospitais, simbolizam tanto a precariedade física quanto o desconforto existencial, reforçando o clima sombrio da música. A escolha desses detalhes conecta diretamente a faixa ao poema original de Boris Ryzhy, que inspirou a letra e é conhecido por abordar temas de alienação e solidão no contexto pós-soviético.

O verso “Жить тяжело и не уютно, зато уютно умирать” (Viver é difícil e desconfortável, mas morrer é confortável) resume o sentimento de desespero e resignação diante da vida, um tema recorrente na obra de Ryzhy. Já o trecho “И жизнь растрепана, как блядь” (E a vida está despenteada, como uma prostituta) usa uma imagem forte para expressar o caos e a degradação emocional. Apesar do sofrimento, a frase “никогда не умереть” (nunca morrer) revela a contradição humana de desejar resistir ao fim. A adaptação do poema pelo Molchat Doma transforma a experiência de isolamento em algo universal, potencializada pela sonoridade fria e minimalista da banda, que amplia a sensação de vazio e desesperança.