Normal

A rotina de resistência e sobrevivência em “Normal”

Em “Normal”, Morad retrata como a violência, a pobreza e a repressão policial se tornam parte do cotidiano em bairros marginalizados, a ponto de serem vistas como algo comum. O refrão repetitivo – “Normal, le-le-le, Normal, lo-lo-lo” – reforça essa ideia de que situações extremas acabam sendo naturalizadas. O artista usa termos como “azules” e “picolos” para se referir à polícia, e a frase “Odio a los azules, también los picolo-los” (Odeio os azuis, também os picolos) expressa claramente a hostilidade e desconfiança em relação às autoridades, refletindo a tensão constante entre moradores e policiais, algo presente na vida de Morad e de muitos jovens em contextos semelhantes.

A letra também destaca a busca por dinheiro como uma necessidade básica para escapar da pobreza, como em “Dinero pa' la casa, pa' quitar de pobreza” (Dinheiro para casa, para sair da pobreza). Morad critica a ostentação de riqueza por quem não conhece a realidade das ruas, exemplificado em “Si te ven presumiendo en la calle de una blusa, te la quitan y ni siquiera tu la usas” (Se te veem ostentando uma blusa na rua, tiram de você e nem sequer você a usa). Ele valoriza a lealdade e a união da comunidade, dizendo “MDLR para mi es un clan y también la familia” (MDLR para mim é um clã e também a família), e ressalta a importância de proteger os seus, especialmente crianças que arriscam a vida para ajudar a família: “Y niños con 17 se meten mar adentro para darle a su mama comida y mesa” (E meninos de 17 se arriscam no mar para dar comida e mesa à mãe).

Ao longo da música, Morad alterna relatos de dificuldades, críticas sociais e reflexões sobre mudanças de vida, como em “A veces estoy en busca y a veces 'toy en blanco, a veces dinero te busco y a veces te canto” (Às vezes estou na correria, às vezes estou sem nada, às vezes procuro dinheiro, às vezes canto para você). Essa alternância mostra a instabilidade e a luta diária de quem vive à margem, mas também a esperança de transformar a própria realidade, agora usando a música como ferramenta para sustentar sua casa. “Normal” é um retrato direto da normalização do sofrimento e da resistência nas periferias, onde sobreviver e manter a dignidade são conquistas diárias.