Passa Geral

Ascensão e resistência urbana em “Passa Geral” de Mota JR

Em “Passa Geral”, Mota JR utiliza a expressão do título para mostrar tanto a liberdade de circular pela cidade quanto o respeito conquistado no ambiente urbano. A música vai além de um simples relato da vida nas ruas, funcionando como um retrato da autoconfiança e da ascensão social do artista. Isso fica claro quando ele afirma: “Hoji n'ta vivi di nha musica / Si bu duvida, ben verifica / Zeros na conta, conta ku quatro / Ku sete na frente, calcula, nigga”, celebrando o sucesso financeiro e o reconhecimento, além de destacar a superação das dificuldades do passado.

O contexto da cena urbana portuguesa e a mistura de hip-hop com AfroTrap aparecem tanto no ritmo quanto nas referências culturais da letra, como as menções a bairros, festas e viagens internacionais: “Nha som ta circula ti dentu Paris / Na Lux, na Holanda, mas foi na CV”. O clima de celebração é reforçado por frases como “Garrafa na mesa ma noz ki pagal” e “Abri garrafa pa noz é normal”, mostrando que aproveitar os frutos do trabalho é parte essencial da vivência do grupo. Ao mesmo tempo, há um tom de alerta e resistência, como em “Cuidado ku poliz, ez ata tchekabu” e “Passa geral contra tudo fardados”, sugerindo a constante vigilância e os desafios enfrentados por quem vem da periferia.

A letra também destaca lealdade e coletividade, com referências à família, amigos e à “firma” (grupo), além de críticas à inveja e à falação alheia: “Boca di mundu é pa mandau abaixo”. O uso de gírias e expressões do crioulo cabo-verdiano reforça a identidade cultural e a ligação com as raízes. Após a morte de Mota JR, versos como “Inda nu ka morri, no” e “BXD ti dia di morti” ganham um peso simbólico, tornando a música um hino de resistência e um registro do legado do artista.