Wild Side

Crítica social e decadência urbana em “Wild Side” do Mötley Crüe

A música “Wild Side”, do Mötley Crüe, faz um retrato direto e sem censura da decadência e do caos nas ruas de Los Angeles. A letra utiliza imagens religiosas para destacar a hipocrisia e a inversão de valores da sociedade. Logo no início, o verso “Kneel down ye sinners to streetwise religion” (Ajoelhem-se, pecadores, para a religião das ruas) mostra que a fé tradicional foi substituída por uma nova "religião" baseada na ganância e na distorção da moralidade. Essa crítica aparece também em referências como “Our father, who ain't in heaven, be thy name on the wild side” (Pai nosso, que não estais no céu, santificado seja o teu nome no lado selvagem), ironizando a perda de fé e a corrupção dos valores tradicionais.

O contexto da composição é marcado pela luta de Nikki Sixx contra a dependência de heroína, o que se reflete no tom sombrio e intenso da música. O trecho “I carry my crucifix under my deathlist, forward my mail to me in hell” (Carrego meu crucifixo sob minha lista de mortes, encaminhe minha correspondência para mim no inferno) mistura símbolos religiosos com autodestruição, ilustrando o ambiente de excessos vivido pelo autor. Ao citar cenas de violência, drogas e tragédias cotidianas — “Gang fights, fatal strikes” (Brigas de gangues, golpes fatais), “A baby cries, a cop dies” (Um bebê chora, um policial morre) — a música denuncia como essa brutalidade se tornou parte do cotidiano, sem volta: “No going back on the wild side” (Sem retorno no lado selvagem). “Wild Side” expõe, assim, uma realidade onde glamour e perdição se misturam, e sobreviver exige abandonar qualquer ilusão de inocência.