Pois é Pra Que

Crítica social e rotina em “Pois é Pra Que” do MPB-4

A música “Pois é Pra Que”, do MPB-4, utiliza a repetição da frase “pois é, pra quê?” para expressar uma ironia diante da rotina e do conformismo social. Essa pergunta recorrente sugere um questionamento sobre o sentido das ações diárias, que, mesmo intensas ou dramáticas, parecem não levar a lugar algum. O trecho “O automóvel corre / A lembrança morre / O suor escorre / E molha a calçada” mostra como a vida moderna é marcada pela pressa, pelo esquecimento e pelo esforço constante, mas sem um propósito claro. Isso reforça a crítica à alienação e à falta de reflexão sobre o próprio viver.

Lançada em 1971, durante a repressão política no Brasil, a música também traz um contexto de insatisfação coletiva silenciada. O verso “revolta latente / Que ninguém vê / E nem sabe se sente” aponta para uma insatisfação tanto pessoal quanto social, que permanece oculta. A letra mistura cenas do cotidiano, como impostos, contas e trabalho, com tragédias e injustiças, como “um tiro no peito / o sangue na rua / a fome, a doença”. Esse contraste evidencia a busca por pequenas compensações, como “a praia compensa / o trabalho a semana / o chopp, o cinema / o amor que atenua”, diante da indiferença ao sofrimento alheio. Metáforas como “A gravata enforca / O sapato aperta / O país exporta / E na minha porta / Ninguém quer ver / Uma sombra morta” criticam tanto a opressão do cotidiano quanto a alienação diante dos problemas sociais. O tom reflexivo e irônico, típico de Sidney Miller, convida o ouvinte a questionar o sentido das ações e a não aceitar passivamente a rotina e as injustiças.