Pele (part. Baco Exu do Blues)

Desejo, identidade e resistência em “Pele (part. Baco Exu do Blues)”

Em “Pele (part. Baco Exu do Blues)”, Muse Maya explora o desejo e a intimidade a partir da perspectiva de uma mulher negra em um ambiente urbano, muitas vezes hostil. A repetição da frase “questão de raça, raciocínio” destaca como o envolvimento físico está ligado à experiência de ser negra, indo além do simples desejo. Versos como “quero sentir sua pulsação por dentro / será que eu consigo?” mostram não só a busca pelo prazer, mas também por pertencimento e aceitação, temas que Muse Maya costuma abordar em sua trajetória, especialmente ao dar voz a mulheres negras que historicamente foram silenciadas.

A música traz imagens urbanas e sensoriais, como “jogado no centro com mais três parceiros / fazendo dinheiro pra te comprar / as roupas que eu mesmo tiro”, misturando a dureza da realidade com ironia e mostrando a luta diária, mas também a autonomia sobre o próprio corpo e desejo. A referência a Kanye West e ao álbum “808s” (“Ouvindo Kanye West, coração partido / 8-0-8 me insinuo”) reforça o tom melancólico e introspectivo. Já a alternância entre português e espanhol em “te quiero, te tengo, su cuerpo caliente” intensifica o clima de paixão e entrega. O verso “vicia sua pele, me deixar sem ar” traz um duplo sentido: pode ser lido tanto como a força do desejo quanto como uma metáfora para relações intensas que consomem e sufocam. A participação de Baco Exu do Blues, artista conhecido por abordar identidade negra e afetividade, amplia a reflexão sobre corpo, amor e resistência negra nas grandes cidades.