Extasy

Desejo clandestino e ansiedade online em “Extasy”

“Extasy”, de Myke Towers, transforma um encontro clandestino em uma “viagem” dupla: êxtase químico e emocional. Lançada no EP Para Mi Ex (2020), a faixa capta desejo à distância e impaciência digital — “Estoy metí’o en el WhatsApp viendo si se va a conectar” (estou no WhatsApp vendo se ela vai entrar). O aviso “por favor, no molestar” (por favor, não perturbe) vira pacto de sigilo. A narrativa é noturna: eles se trancam, fumam — “Prendió una hierba” (acendeu um baseado) —, dançam dembow, e ele se gaba do efeito que provoca — “nunca lo había hecho así” (nunca tinha feito assim). O título “Extasy” e versos como “me siento high, me voy en overdose” (me sinto chapado, vou de overdose) reforçam o duplo sentido: alusão à droga e a uma conexão que transborda o físico, algo que muitos críticos veem como toque quase espiritual.

A discrição é regra: “Que nunca diga’ to’ lo que hace’ conmigo” (que você nunca diga tudo que faz comigo) e o pedido de não “meter a cupido” (envolver o Cupido) delimitam prazer sem romance público. Há um jogo de poder com cultura pop: “Ella se obsesionó conmigo como Rihanna con Drake” (ela ficou obcecada por mim como a Rihanna pelo Drake). Ao mesmo tempo, o eu lírico se afirma “el querendón de la calle” (o queridão da rua) e ela o procura quando “en su casa no la atienden” (em casa não dão atenção pra ela), sinal de um caso nascido da carência e mantido no segredo. Entre a saudade imediata — “Me acabo de ir, pero ya quiero regresar” (acabei de ir embora, mas já quero voltar) — e o “no molestar”, “Extasy” captura relações intensas e instáveis moldadas por notificações, ausências e desejo rápido.