A Cidade

Desigualdade e resistência urbana em “A Cidade” da Nação Zumbi

Em “A Cidade”, Nação Zumbi expõe de forma clara as desigualdades sociais presentes no ambiente urbano. O verso repetido “O de cima sobe e o de baixo desce” destaca, de maneira direta e irônica, como a mobilidade social é limitada e os papéis sociais permanecem praticamente inalterados, mesmo com o crescimento da cidade. A expressão “pedreiros suicidas” chama atenção para o sacrifício dos trabalhadores que constroem a cidade, mas não se beneficiam do progresso, evidenciando a exploração e a falta de reconhecimento desses indivíduos.

A música também faz uma crítica à corrupção e à manipulação do espaço urbano por interesses próprios, como fica claro no trecho “a cidade está prostituída por aqueles que a usaram em busca de saída”. Essa metáfora mostra como a cidade é explorada por poucos, enquanto a maioria da população segue à margem. O contexto do início dos anos 1990, marcado por crise econômica e desemprego, aparece em versos como “a situação sempre mais ou menos, sempre uns com mais e outros com menos”, reforçando a sensação de injustiça social.

Ao citar embolada, samba e maracatu, Chico Science & Nação Zumbi valorizam a cultura popular como forma de resistência. Esses gêneros musicais, ligados à luta e à identidade do povo, são apresentados como ferramentas para enfrentar as dificuldades (“pra a gente sair da lama e enfrentar os urubu”), onde “lama” representa os desafios e “urubu” simboliza quem se aproveita da miséria. Assim, a música vai além da denúncia e propõe a cultura como caminho de transformação social.