P.I.T.T.Y. (Parecendo Uma Cafetina)

Empoderamento e ironia em “P.I.T.T.Y (Parecendo uma Cafetina)”

“P.I.T.T.Y (Parecendo uma Cafetina)”, de NandaTsunami, utiliza ironia e provocação para inverter papéis de gênero, especialmente no contexto do rap. Logo no início, a artista subverte o olhar objetificador ao dizer: “Gosto dos homens igual eu gosto dos meus sapatos / Calados (shh), bonitos e altos”. Aqui, ela devolve aos homens o tipo de objetificação normalmente direcionado às mulheres, escancarando o duplo padrão presente na sociedade. Ao longo da música, NandaTsunami assume posturas tradicionalmente associadas ao comportamento masculino, como o desapego afetivo e a objetificação, deixando claro: “às vezes eu só taco o foda-se e ajo igualzinho os cara”.

O título e o refrão trazem uma metáfora marcante: “Minha Glock eu chamo de Pitty, ela descansa bem na estante / De pelúcia e unhas grandes, parecendo uma cafetina”. “Pitty” pode ser interpretada como símbolo de poder e proteção, uma referência à cantora Pitty, conhecida por sua força e postura feminista, ou ainda um trocadilho com “pity” (pena, em inglês), ironizando a ideia de fragilidade feminina. A imagem da cafetina, geralmente ligada ao controle e autoridade, é ressignificada para expressar autonomia e domínio. O verso “Ele quer me mostrar valor, bota ele pra trampar na esquina” reforça essa inversão de poder, colocando o homem em posição submissa.

A crítica aos padrões masculinos e à fragilidade emocional dos homens aparece de forma direta e debochada, como em “Cês têm medo de buceta, talvez Freud explique isso” e “choveu de comentário de homem com mommy issues”. NandaTsunami expõe o incômodo masculino diante do discurso sexual feminino e ironiza a hipocrisia de quem critica mulheres por falarem abertamente sobre sexualidade. O final da música destaca o desconforto causado quando mulheres ocupam espaços de fala e poder, reafirmando o tom autêntico, empoderado e provocador da artista.