Pisca Duas Vezes

Códigos de desejo e liberdade em "Pisca Duas Vezes"

"Pisca Duas Vezes", de NandaTsunami, retrata as complexidades dos relacionamentos urbanos com uma abordagem direta e provocativa. A música utiliza o gesto de "piscar duas vezes" como um código silencioso de comunicação e consentimento, sugerindo cumplicidade e entendimento mútuo em relações marcadas pela liberdade e pela ausência de amarras tradicionais. O verso “Pisca uma vez cê me entende” destaca essa conexão não verbal, típica de relações contemporâneas, onde nem tudo precisa ser dito explicitamente.

A letra explora o equilíbrio entre desejo e autonomia, como em “Te comer sempre vai me limitar muito” e “Eu sei que eu não sou o único, e pra mim, tá bom!”. Essas frases refletem uma postura desapegada, mas consciente dos próprios sentimentos e limites, dialogando com a vivência de NandaTsunami em São Paulo, onde as relações são fluidas e abertas a múltiplas possibilidades. Elementos como tarot, dinheiro e referências ao cotidiano urbano – “Ela gosta de tarot / E eu gosto de dinheiro no bolso” – misturam espiritualidade, materialismo e experiências pessoais, características marcantes do estilo da artista. Metáforas sensuais, como “Quero morder seu corpo tipo um bombom” e “Cheiro de baunilha doce / Parecendo uma sobremesa”, reforçam o prazer nos detalhes e nos jogos de sedução.

A canção também questiona padrões sobre o papel da mulher e do afeto, valorizando a complexidade e a liberdade feminina, como em “Uma mulher não é nada / Se não tiver os seus mistérios / Uma mulher não é nada / Se contar com um só afeto”. Ao mesmo tempo, reconhece a vulnerabilidade: “Eu tenho um coração puro / Meu problema é de cabeça”. O convite final – “Então pisca duas vezes / Se cê precisar de ajuda” – encerra a faixa com uma oferta de apoio, mantendo o tom de jogo e provocação presente em toda a música.