AMIMA (part. Kapo)

“AMIMA (part. Kapo)” identidade, prazer e autocontrole

No refrão, Nanpa Básico ressignifica “hijueputa” (“filho da puta”) como identidade, não insulto, e reafirma sua ética pessoal. Já “Uno pa’ las ánimas y otro pa’ mí” (“um para as almas e outro para mim”) traz o brinde popular colombiano e a ideia de repartir a energia entre espiritualidade e prazer — reforçada pelo clipe em bar, com cinzeiro na mesa e conversa de parqués. O narrador se assume “loco desde pelaí’to” (“louco desde pequeno”), vai “de gorra o de sombrero” (“de boné ou de chapéu”), acorda “prendendo tempranito con la salsa de Jerry Rivera” (“acendendo cedo ao som da salsa de Jerry Rivera”) e diz que sua vida é “como un bolero” (“como um bolero”): romântica e dramática, mas trilhada a seu modo, na estrada e no exterior. A fusão rap + afrobeat, com Kapo acrescentando balanço e energia, dá leveza a uma confissão direta, fortalecendo a parceria já entrosada desde “Pelinegra”.

A letra alterna prazer e limite: “me gusta la vida buena”/“no en mujer ajena” (“eu gosto da vida boa”/“mas não com mulher alheia”), e o tempo só vai no que “vale la pena” (“vale a pena”), incluindo escrever para curar dores. A dualidade é explícita em “cada quien carga su culpa y su cruz” (“cada um carrega sua culpa e sua cruz”) e “diablo y un ángel dolidos” (“diabo e um anjo feridos”), daí o alerta “ten cuidado quien te habla al oído” (“tenha cuidado com quem fala no seu ouvido”). Há recado a quem foca na vida alheia: “por estar pensando en mí, te dejó el bus” (“por ficar pensando em mim, você perdeu o ônibus”). O mantra final — “yo no voy a cambiar, yo ya me muero así” (“eu não vou mudar, eu já morro assim”) — sela a firmeza de caráter: que caia o que estiver “flojo” (“frouxo”). No auge recente do Nanpa Básico (casa cheia em Medellín), encenada como conversa íntima, “AMIMA (part. Kapo)” reafirma: viva no seu compasso, celebre seus prazeres e carregue suas cruzes sem pedir licença.