Call D

Risco e desejo em “Call D”: voz que seduz e alerta

Em “Call D”, do NCT U, a chamada é sedução e alerta ao mesmo tempo. A mesma voz que insiste em “don’t call D” (não ligue para D) promete “anything you need” (tudo que você precisar), juntando desejo e perigo. O “D” pode ser desire, danger, dopamine ou demon — desejo, perigo, dopamina ou demônio — e prende pela curiosidade: “DM” (mensagem direta), “pistas”, veneno que adoça — “독은 달고 진해” (o veneno é doce e intenso) — e um fluxo que se espalha “como veias”, virando rede/rua cheia de armadilhas. A estética hyperpop imita telefonema, e o aviso da “operator” (operadora) no final soa como loop, reforçando a armadilha digital. Com Taeyong e Ten — segunda colaboração após “Baby Don’t Stop” —, a alternância de timbres encena sedução versus alerta, intensificando a tensão central.

A trajetória mostra um narrador solitário entre esperança e desespero que morde a isca: um “DM” (mensagem direta) de alguém chamado D. Ele tenta resistir — “절대로 don’t call D” (de jeito nenhum ligue para D) —, mas o impulso escala: noites longas, telefone virado, pensamentos incontroláveis, rumores de morte no encontro e ordens para correr. Ao encarar a “decalcomania”, o autorretrato e o riso, perseguidor e perseguido se fundem; “don’t call D” vira voz interna. O ciclo de “re-dial” (rediscar) se instala enquanto a “operator” (operadora) manda desligar e tentar de novo. Predominam ansiedade, atração e perda de controle porque o prazer prometido vem como “doce veneno”. Cabem leituras de D como dependência (dopamina/droga), perigo digital (grooming/DM), tentação carnal ou persona sombria do próprio narrador: a faixa arma um espelho onde a tentação externa se revela interna.