Sem Mimos (feat. Cabral, Euzy FdiB & Tunto)

Realidade periférica e resistência em “Sem Mimos (feat. Cabral, Euzy FdiB & Tunto)”

“Sem Mimos (feat. Cabral, Euzy FdiB & Tunto)”, de Ne Jah, retrata de forma direta a vida nas periferias de Lisboa, especialmente para quem vem de comunidades cabo-verdianas. A repetição da expressão “ka ta da” (não é dado) e o uso do crioulo cabo-verdiano reforçam o sentimento de exclusão e resistência, mostrando que privilégios e facilidades não fazem parte da realidade desses jovens. O título resume esse contexto: não há regalias, apenas a luta diária para sobreviver e conquistar respeito.

A letra traz imagens marcantes do cotidiano, como a comparação da vida a uma rotunda (rotatória), simbolizando a sensação de estar preso em ciclos sem saída: “Nhas momentus / Sta sima un rotunda / Nha cabeça ê motor / Ami ê un viatura”. O uso de metáforas automobilísticas sugere a busca por direção e controle em meio ao caos. Trechos como “Dentu mi existi esperança / Ma nka ta fica sozinhu” mostram que, apesar das dificuldades, ainda há esperança e solidariedade entre os jovens do gueto. A música também critica o Estado e a sociedade, que ignoram ou suprimem os moradores das “barrakas” (barracos), como em “Nhas niggas maltratadu, suprimidu pa stadu / Barraka ê mutivu pa bu ser ignorado”.

Além disso, a influência do passado e da família aparece em versos como “Na passadu / Era diferenti / Papa era presenti / Mama ka staba ausenti”, mostrando como a ausência de figuras parentais e as dificuldades desde a infância moldam a identidade dos jovens. “Sem Mimos” é um retrato autêntico da resiliência e esperança que surgem mesmo diante da adversidade nas periferias.