Proibidão 2021

Realidade e resistência na favela em “Proibidão 2021”

Em “Proibidão 2021”, Borges faz um retrato direto e impactante da vida nas comunidades cariocas, comparando a favela a um cenário de guerra: “nós tá tipo Iraque, nosso colete é a fé”. Essa analogia mostra como a violência e o perigo são parte do cotidiano, e não apenas exagero. A letra destaca a presença constante de facções, o som dos tiros e a ausência de soluções reais do Estado, como na crítica à UPP: “a solução não é uma UPP”.

A música também aborda o ciclo precoce de entrada no crime, evidenciado em “menó vagabundo só tem doze ano', papo nos cria de pular o muro / Foi se envolver com o crime por fama / Achando que a idade ia virar escudo”. Borges expõe como jovens buscam status e sobrevivência, muitas vezes iludidos pela ideia de proteção pela idade. A fé surge como proteção simbólica diante da insegurança, e a saudade dos amigos perdidos para a violência aparece em versos como “Padre Severino / No peito estampa a saudade do amigo”. O refrão reforça a resiliência dos moradores, que conhecem o território e se mantêm atentos para sobreviver, enquanto o “caveirão” precisa recuar.

Além da denúncia social, Borges fala sobre a busca por respeito e ascensão, seja pelo dinheiro, poder ou pela transformação pessoal, como no caso do “menó da boca que virou artista”. O orgulho de superar as dificuldades e a crítica à hipocrisia social (“Muito mais dinheiro que engravatado”) mostram a força e a resistência dos moradores. “Proibidão 2021” mistura denúncia, desabafo e celebração da resistência, trazendo autenticidade e dando voz a uma realidade muitas vezes ignorada.