Four Women

Racismo e resistência feminina em “Four Women” de Nina Simone

“Four Women”, de Nina Simone, destaca-se por retratar de forma direta o impacto do racismo e do sexismo na vida de mulheres negras, usando quatro personagens para ilustrar diferentes experiências de opressão. Inspirada pelo atentado à Igreja Batista da 16ª Rua, a canção transforma a dor coletiva em um grito de resistência, tornando cada verso carregado de significado histórico e social.

Aunt Sarah representa a resiliência diante da escravidão, como mostra o verso “Strong enough to take the pain / Inflicted again and again” (Forte o bastante para aguentar a dor / Infligida de novo e de novo), ressaltando a capacidade de suportar sofrimento contínuo. Saffronia, “between two worlds” (entre dois mundos), expõe o conflito de identidade de pessoas mestiças, resultado de relações forçadas, como em “My father was rich and white / He forced my mother late one night” (Meu pai era rico e branco / Ele forçou minha mãe certa noite). Sweet Thing revela a exploração sexual e a objetificação, sendo “anyone who has money to buy” (qualquer um que tenha dinheiro para comprar), mostrando como a sociedade reduz mulheres negras a mercadorias. Por fim, Peaches expressa a raiva acumulada de gerações, dizendo “I'll kill the first mother I see / My life has been too rough” (Vou matar o primeiro que eu ver / Minha vida foi dura demais), uma resposta amarga à herança da escravidão e à marginalização.

A música gerou controvérsia por confrontar estereótipos raciais de forma tão direta, chegando a ser banida em rádios. Seu impacto, porém, está em dar voz às dores, complexidades e resistências das mulheres negras, desafiando o ouvinte a enxergar além dos rótulos e reconhecer a humanidade por trás de cada personagem.