Beans

“Beans” e o humor zen na rotina simples de Jessie e pai

Embora pareça uma piada, “Beans”, do Nirvana, ecoa a simplicidade beat/zen que Kurt Cobain admirava em Japhy Ryder, de “The Dharma Bums”. Gravada entre 1986 e 1988 e lançada só em 2004 no box “With The Lights Out”, a faixa aposta no mínimo para mostrar que alegria pode nascer do básico. A pequena narrativa acompanha Jessie repetindo gestos cotidianos — “Jessie had some beans / he ate some beans” (Jessie comeu um pouco de feijão / ele comeu um pouco de feijão) — e depois o pai, “Daddy ate some beans” (Papai comeu um pouco de feijão), sugerindo contentamento partilhado, quase doméstico. O verso “sitting cross legged / naked” (sentado de pernas cruzadas / pelado) reforça a ideia de naturalidade, em sintonia com a figura despojada de Japhy em Kerouac.

A repetição atua como um pequeno mantra: “beans, beans, beans” (feijão, feijão, feijão) e “happy, happy, happy” (feliz, feliz, feliz) martelam uma felicidade direta, sem ornamentos. O humor surge do contraste entre o banal “beans” (feijão) e o “wine” (vinho), como se o barato e o refinado levassem ao mesmo estado leve. As trocas e erros — “he ate some wine / ge dranks some wine / he dranks some beans” (ele comeu um pouco de vinho / ge bebeu um pouco de vinho / ele bebeu um pouco de feijão) — infantilizam o texto e desmontam qualquer pretensão de profundidade. No fim, a canção ri da busca por grandes significados enquanto sugere um: às vezes, sentar, pelado, comendo feijão e tomando vinho já basta para ficar feliz.