[New Wave] Polly

Violência e desconforto em “New Wave Polly” do Nirvana

Em “New Wave Polly”, o Nirvana, sob a liderança de Kurt Cobain, adota uma abordagem ousada ao narrar a música do ponto de vista do agressor. Essa escolha provoca desconforto e obriga o ouvinte a encarar a mentalidade de um estuprador, tornando a experiência intensa e impactante. O uso de frases aparentemente inocentes, como “Polly wants a cracker” (Polly quer um biscoito), contrasta de forma chocante com o contexto real da música, inspirada pelo sequestro e estupro de uma garota de 14 anos em Tacoma, Washington. Esse contraste evidencia a desumanização e o controle do agressor, que reduz a vítima a um objeto ou animal de estimação.

A letra traz metáforas e duplos sentidos que reforçam o tema do abuso. Trechos como “let me clip, dirty wings” (deixe-me cortar, asas sujas) e “got some rope, have been told” (tenho uma corda, me disseram) remetem à restrição física e psicológica da vítima. Já “let me take a ride, hurt yourself / want some help, please myself” (deixe-me dar uma volta, machuque-se / quer ajuda, me satisfaço) expõe a perversidade do agressor, que finge ajudar enquanto busca apenas seu próprio prazer. O verso “Amazes me the will of instinct” (Me surpreende a força do instinto) destaca a resistência e a força de sobrevivência da vítima. O ritmo mais acelerado da versão “New Wave” intensifica a sensação de ansiedade, tornando a mensagem ainda mais urgente.

O contexto histórico, incluindo a reação de Cobain ao saber que a música foi usada em um crime real, reforça sua intenção de denunciar e condenar a violência sexual. Ao adotar a perspectiva do agressor, Cobain não glorifica o crime, mas expõe sua monstruosidade, buscando chocar e conscientizar o público sobre a gravidade do abuso sexual.