Polly

Violência e desconforto em “Polly” expõem crítica social

Em “Polly”, o Nirvana, sob a liderança de Kurt Cobain, opta por narrar a história do ponto de vista do agressor, o que torna a música especialmente perturbadora. Inspirada em um caso real de sequestro e estupro ocorrido em Tacoma, Washington, em 1987, a letra força o ouvinte a encarar a frieza e a banalidade do mal. Expressões aparentemente inocentes, como “Polly wants a cracker” (“Polly quer um biscoito”), são usadas para mostrar a desumanização e o distanciamento emocional do criminoso. O contraste entre termos infantis, como “cracker” e “seed”, e o contexto de violência e abuso, intensifica o desconforto e evidencia a crítica à objetificação da vítima.

A simplicidade acústica da música, gravada com um violão barato e poucos recursos, reforça o tom cru e direto da narrativa. Trechos como “Let me clip your dirty wings” (“Deixe-me cortar suas asas sujas”) e “Got some rope, haven't told” (“Tenho uma corda, não contei”) revelam o desejo de dominação e manipulação do agressor. Já versos como “She asks me to untie her / A chase would be nice for a few” (“Ela me pede para soltá-la / Uma perseguição seria interessante por um tempo”) sugerem a tentativa da vítima de ganhar a confiança do sequestrador para tentar escapar, em referência direta ao caso real. O refrão repetitivo e a ausência de julgamento moral explícito expõem a violência de forma crua, sem romantização, refletindo a preocupação de Cobain com a misoginia e a violência sexual, temas que ele abordou publicamente. Assim, “Polly” não apenas retrata um crime brutal, mas também denuncia a indiferença e a banalização da violência contra mulheres, provocando reflexão e desconforto no ouvinte.