No Hay Dolor

Esperança ativa e cura coletiva em “No Hay Dolor”

Em “No Hay Dolor”, da No Te Va Gustar, a esperança não é ingênua: nasce de uma mudança de perspectiva e de um pacto coletivo. Quando a banda canta “El norte no va a estar arriba, va a ser todo sur” (O norte não vai estar em cima, vai ser tudo sul), aponta uma inversão de coordenadas — e de relações de poder — que prepara o terreno para o refrão “Ya no hay dolor” (Não há mais dor). A letra reforça o sentido comunitário em “Nos vamos a mirar las caras entre todos” (Vamos nos olhar na cara, todos nós), sugerindo enfrentamento e reconciliação, e abre um flanco social em “Ya no van a sangrar las manos de esos pocos” (As mãos daqueles poucos não vão sangrar mais): pode ser lida como o fim da exploração em que poucos carregam o peso por muitos ou como a promessa de que o sacrifício extremo deixará de ser a regra. Esse horizonte de mudança, situado no tom crítico da faixa, sustenta a confiança de “Mañana va a ser un gran día” (Amanhã vai ser um grande dia), que funciona como farol de um futuro reorganizado.

No plano íntimo, a música transforma o tempo em aliado da cura: “Si todo lo que te lastima el tiempo lo hace durar / hasta que seas consciente que no te hace daño” (Se tudo o que te machuca o tempo faz durar / até que você perceba que isso não te faz mal) descreve o paradoxo em que a dor persiste até virar compreensão, momento em que perde o poder de ferir. A repetição “Ya no hay dolor / ya no duele y no va a doler” (Não há mais dor / já não dói e não vai doer) age como mantra de reprogramação emocional, alinhado à ideia de superação e crescimento pessoal que define a faixa. Já “Solo para tomar impulso y llegar más alto” (Apenas para tomar impulso e chegar mais alto) ressignifica a espera como acúmulo de força: o atraso não é derrota, é preparação para o salto. Assim, a canção costura cura individual e transformação coletiva no mesmo gesto de avanço, convertendo feridas em impulso.