Dopeman

“Dopeman” retrata vício, lucro e violência em Compton

A faixa encena várias vozes: Ice Cube narra, Dr. Dre entra em esquetes agressivos, Eazy-E veste a pele do vendedor e Krazy D aparece como cobrança moral. O refrão “Dopeman” vira jingle de venda e grito de alerta, expondo o ciclo de vício, dinheiro fácil e violência que o N.W.A. mostrou sem filtro em Compton. Cube detalha o poder do traficante: “slanging ’caine” (vendendo cocaína), ostentando o “six-four” (Impala 64) e impondo medo com “his uzi up yo ass if he don’t get paid” (ele enfia a Uzi no seu rabo se não for pago). Ele explicita o código do negócio em “Don’t get high off your own supply” (não use a própria mercadoria) e a lógica do lucro em “clocking… on the 1st and 15th” (faturando… nos dias 1º e 15, de salário e benefício).

A música também traduz o vocabulário das ruas: “base heads/clucker” (usuários de crack); “key to a g” (do quilo ao grama); “gank” (roubar/enganar); e, aqui, “five-0” (pedra de 50 dólares), não polícia — reforçado quando Dre diz “got that five-0 – double up” (tenho a de cinquenta — em dobro). A exploração de mulheres é frontal: “strawberry” (mulher que troca sexo por crack), enquanto o trecho de Dre escancara misoginia e humilhação como dinâmica de poder. Quando Eazy-E afirma “I’m the dopeman… money up to here but unemployed” (eu sou o traficante… dinheiro até aqui, mas desempregado), ironiza o sistema: muito dinheiro ilegal, nenhuma oportunidade formal. A intervenção final de Krazy D — prometendo retaliar a morte da irmã — marca o ponto de ruptura da comunidade. “We just can’t quit” (a gente simplesmente não consegue parar) vale para a dependência e para a engrenagem econômica que mantém o traficante ativo — um comentário social cru, sem glamour.