Ainda É Verão

Ciclos, despedidas e esperança em “Ainda É Verão”

Em “Ainda É Verão”, O Grilo — banda paulistana que mescla rock, MPB e indie — organiza a narrativa em ciclos da natureza. “O Sol vai se pôr pra logo voltar” e “Sente o véu da Lua levantar” sinalizam revelação e ganho de perspectiva, como um convite: “vem ver o céu de cima”. No centro está o contraste de “Hoje fez frio, ainda é verão”: a aparência externa não acompanha o clima interno. A resposta não é negar o frio, mas manter o horizonte do recomeço. Por isso, a imagem da “flor que murchou pra desabrochar” inverte a lógica da perda, e o “vitral” feito dos cacos não apaga a ruptura; reorganiza a dor para que a luz atravesse de outro jeito.

A história parte do vazio de “Se tudo é vazio” e caminha para uma decisão ativa: “por que não fazer dos cacos desse coração um vitral” e “botar nessa história um ponto final”. Esse “ponto final” pode encerrar um relacionamento que já não floresce ou o próprio ciclo da dor, abrindo espaço ao novo. A repetição “Se nada vai bem/Só vai melhorar”, que depois vira “Já vai melhorar”, marca a passagem da promessa para a confiança. Quando a letra troca “A flor que murchou pra desabrochar” por “pra outra brotar”, reforça despedida e recomeço: algumas coisas precisam acabar para que outras nasçam. O arco emocional sai do frio e do vazio para uma esperança concreta, redesenhando o que doeu — como um vitral — em algo com cor e sentido.