Tá Amarrado

Resistência cultural e ironia religiosa em “Tá Amarrado”

A música “Tá Amarrado”, do grupo OQuadro, faz uma crítica direta ao uso religioso da expressão “tá amarrado”, comum em igrejas neopentecostais para afastar o mal. Na canção, essa frase é ressignificada de forma irônica, tornando-se símbolo de resistência cultural e social. OQuadro mistura referências do candomblé, umbanda e da cultura popular baiana com elementos do hip hop, ironizando a demonização das religiões de matriz africana. Trechos como “Guaiamum pro santo cevando na farofa de dendê” e “Caruru de terreiro pros nativos e pros forasteiros comer” valorizam rituais ancestrais e a força das mandingas, patuás e símbolos de proteção, como pé de coelho, carranca, dente de alho e arruda. Esses elementos representam tanto proteção espiritual quanto uma resposta ao preconceito e à intolerância religiosa.

A letra também contrapõe a fé popular à religiosidade institucionalizada, como em “A resistência do pai de santo contra o discurso do pastor” e “Do lado de fora da igreja pregada no portão / Uma placa me alertando cuidado com o cão”. OQuadro transforma o rap em “ladainha” e “mandinga”, fazendo da música um ritual de proteção e afirmação identitária: “Minha seita é o hip hop / Oferenda na encruzilhada, scratch e batucada”. Ao criticar a apropriação e deturpação de elementos culturais, como no verso sobre o “vatapá transgênico” e ao afirmar que “erva solta natural é coisa de Deus / Amônia em bagulho industrializado é arte do diabo”, a canção se posiciona como um manifesto de orgulho afro-baiano, resistência e celebração das raízes locais.