Quando Carmen Miranda Voltou
Orestes Dornelles
Quando Carmen Miranda voltou pro Brasil
Chamaram de americana e outras coisinhas mil
Ninguém sonhava que menos de cem anos depois
Em vez de valentes cowboys estaríamos mais para bois
Vestindo blue jeans e boné, de óculos escuros
Recitando poemas ritmados e obscuros
Em busca de um sonho acordado
No enredo de um filme profundo
Mandando bala num seriado
E querendo salvar meio mundo
Quando Carmen Miranda voltou, que alegria
Terceiro mundo encenava a sua mais bela fantasia
Todas Américas já desprezavam as suas epopeias
Enquanto continuavam sendo colônias europeias
Pois nem galegos, nem bascos e nem otomanos
Nem orientais, nem bretões e nem africanos
Lembrariam que um dia Vespúcio
Sutilmente enganou Colombo
E embarcariam nesse streaming
Que oferece desconto num combo
Quando Carmen Miranda voltou, que beleza
O país com orgulho exaltava a sua natureza
O mistério, o encanto, segredos de nossa floresta
A riqueza escondida no subsolo e agora, o que nos resta?
Só nos resta rezar e pedir por todos os santos
Todos os deuses daqui, de acolá e de todos os cantos
Pra que a vida não seja apenas
A cobiça de quem provocou
A ganância desenfreada
Que quase o sonho acabou
Pra que a vida não seja apenas
A cobiça de quem provocou
A ganância desenfreada
Que quase o sonho acabou
Quando Carmen Miranda voltou
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