Nós É Isso

Pertencimento e ambição em “Nós É Isso”, de Orochi

Em “Nós É Isso”, o refrão vira afirmação de pertencimento: “Nós é isso” equivale a “nós somos isso”, transformando o lifestyle caro em identidade, não em pose. Orochi sustenta a ideia com a metáfora da luz que ilumina e cega — sucesso que guia os seus e incomoda os outros — enquanto admite que a ascensão tem lado ilícito: “pego essas grama e entoco os quilo”. A prioridade é clara em “Posso viver sem amor mas não morrer sem dinheiro”; o clima é de foco frio e vigilância, “sempre alerta… com a peça”. Há fé como escudo (“mil cairão ao seu lado…”, eco do Salmo 91) e linguagem de guerra (“sniper”, “armamento bruto”, “Cartel de Cali”), sinalizando o risco do território.

A ostentação funciona como cartão de visita — “carro do ano”, “ouro maciço”, “BM voando”, “ice”, “artigo de grife”. As metáforas de poder ampliam a imagem (“meu olhar… porra do Sol”, “megazord”). Referências de esporte e luta (“Muhammad Ali”, “driblo o sistema que nem Dele Alli”) sublinham performance e vitória. Nas relações, o pragmatismo domina: “ela não me ama só quer dar pro mais forte”/“amor bandido” aponta prazer e status, não afeto. O custo psicológico é reconhecido, e a resposta vem no desapego e no hedonismo imediato.

Como primeiro single de Vida Cara, a faixa apresenta o manifesto do álbum: orgulho do luxo e determinação em mantê-lo, mesmo por vias tortas. O clipe dirigido por Pedro DaRua ganhou festa no Rio com a cena inteira colada (Poze, Azzy, Tz da Coronel, MD Chefe, MC Cabelinho, L7nnon, Reinier, Lázaro, Mel Maia), materializando o “nós” do refrão. E quando ele rima “No Beat do Kizzy meu mano é fatality” (finalização mortal), conecta direto à produção de Kizzy (mix de Dallass e master de 2f Uflow), selando a estética: som polido para conteúdo de rua, onde ostentação, guerra e desejo se misturam com a grana como regra do jogo.