Bênção (part. Xamã, CT, Pelé MilFlows e Sant, ADL Dk)

Fé e sobrevivência urbana em “Bênção (part. Xamã, CT, Pelé MilFlows e Sant, ADL Dk)”

Em “Bênção (part. Xamã, CT, Pelé MilFlows e Sant, ADL Dk)”, Pablo Martins e os convidados exploram a relação complexa entre fé e sobrevivência nas periferias. O verso repetido “Na raiva da santa me benzo” mostra como a espiritualidade é acionada em momentos de desespero, misturando proteção e revolta diante das dificuldades. Esse gesto de se benzer “na raiva” indica que, para quem vive à margem, a fé muitas vezes é um último recurso, usado quase como uma tentativa de forçar a sorte, refletindo a desconfiança de quem precisa confiar mais na rua do que em promessas divinas. O contexto do coletivo 1Kilo, conhecido por retratar a realidade urbana, reforça esse clima de sobrevivência e tensão constante.

Os versos de Xamã trazem ironia e referências à cultura pop, como ao preferir “Danny Glover” a “Mel Gibson” e citar “John Lennon” e “Jon Jones”, criando paralelos entre lutas pessoais, cultura de rua e celebridades. A frase “Eu subornei o cupido hoje ele tá de Land Rover” brinca com a ideia de corromper até o amor, enquanto “1kilo de problema pra tua vida” faz referência tanto ao coletivo quanto ao peso dos desafios enfrentados. CT e Pelé MilFlows aprofundam a crítica social, abordando o desespero, a busca por dinheiro e a pressão de prosperar, especialmente quando Pelé menciona a paternidade como um fator de urgência para mudar de vida. Sant e ADL Dk ampliam o debate sobre resiliência e desigualdade, mostrando a necessidade de estratégia para sobreviver em um ambiente hostil, como em “Pago dez mil de plantão pra ter paz na minha favela / Pago cem mil de munição se for preciso fazer guerra”.

Assim, a música retrata de forma direta a luta diária nas periferias, onde fé, ambição e crítica social se misturam. As referências culturais e metáforas ilustram tanto o peso das dificuldades quanto a criatividade e resistência de quem transforma a própria vivência em arte e denúncia.