.Sais e Minerais

“.Sais e Minerais”: amor, lealdade e eco da colonização

Em “.Sais e Minerais”, Papillon usa vocabulário náutico — “vento em popa”, “fogo na proa” — para preparar o fecho com caravelas e colonização, ligando a história do casal à navegação e à ideia de descoberta. “Roubaram o teu ouro” carrega duplo sentido: denuncia a objetificação e os maus-tratos que ela sofreu e, ao mesmo tempo, ecoa a pilhagem colonial romantizada pelo áudio final.

No centro da faixa está um compromisso de cura e elevação mútua. O refrão promete um amor sem cálculo e sem fim: “Nem a morte nos há de separar”. Os versos desmontam a lógica do troféu: “não é a coroa que faz a rainha, é a rainha que faz a coroa”. Ele reconhece o passado dela — “quiseram-te despir sem te assumir” — e incentiva a reconquistar valor: “aprender não é só decorar / Tens que aprender a te condecorar”. Surgem imagens de parceria concreta: apresentar aos “cotas”, voltar para casa com “bag” (grana), ter sempre “back” (apoio). Há um pacto de lealdade total no código Bonnie e Clyde — “ride or die” (até o fim, custe o que custar); “na mesma team, é batota” sugere que juntos se tornam praticamente imbatíveis. “Contar as minhas notas” joga com dinheiro e música, sinalizando vida material e criação partilhadas.

O desfecho com a narração sobre Infante de Sagres, Nuno Tristão e as fortalezas em Cacheu amplia o campo simbólico. Pelo contexto, surge como paralelo de exploração conjunta: o casal enfrenta mares e descobre “novos mundos” no vínculo. Mas também opera como crítica irônica: enquanto a narrativa colonial fala em “pacificação” e “nobreza das nossas intenções”, a canção contrapõe um amor que repara, não explora — quem foi saqueada recupera brilho e autonomia. A tensão aprofunda o retrato: navegar juntos, sim, com outra ética — a de construir, não conquistar.