Solidão

“Solidão”: autonomia, coragem e quietude serena

Em “Solidão”, Paulo César Pinheiro transforma o estar só em força ativa. O sujeito se amplia no recolhimento, como afirmam “Eu sozinho sou mais forte” e “Não fujo nunca da vida / Nem tenho medo da morte”. O fecho “jamais ficado sozinho” desmonta a contradição aparente: a solidão aqui é estado de atenção a si, não ausência de gente. Por isso, “Não faço caso de ausência” indica que a falta não paralisa; vira matéria de calma. A letra organiza a identidade a partir desse núcleo: sozinho, ele se reconhece, enxerga seus limites e encontra coragem.

As imagens sustentam a autonomia de dentro para fora. “Em estado bruto” e “gerador de energia / de mim mesmo absoluto” reforçam a autossuficiência: a força nasce sem mediações. Há tensão produtiva entre impulso e lucidez em “Não meço nunca o meu passo / Não penso nunca o que faço / E faço tudo o que penso”: a possível imprudência se equilibra na coerência entre pensar e agir. A metáfora da “Esfinge… no meio do deserto” com “finge que sabe o que é certo / e sabe que é certo que finge” admite dupla leitura: mecanismo de autoproteção diante do enigma ou crítica à certeza moral. Em ambos, a dúvida se torna método de autocontrole.

Surge um percurso de expansão: da afirmação de força ao encontro da essência, à geração própria de energia, até a paz ampla de “sou imenso” e “sou sereno”, quando “o mundo fica pequeno”. O paradoxo final — “sou eu, sou todos, sou tudo” e, ainda assim, “jamais ficado sozinho” — sugere uma consciência integradora, capaz de abarcar o múltiplo sem perder o centro. Em Paulo César Pinheiro, solidão não é retraimento triste; é fonte de autonomia, coragem e quietude lúcida.