Juízo Final

Humor e crítica social em "Juízo Final" de Paulo Vanzolini

Em "Juízo Final", Paulo Vanzolini utiliza a ironia para transformar o tradicional tema do julgamento pós-morte em uma cena carregada de humor e crítica social. Logo no início, o artista apresenta o personagem principal diante de seus pecados, que são avaliados de forma quase burocrática, como se fossem mercadorias. Essa abordagem tira o peso dramático do arrependimento e reforça o tom satírico, mostrando que o julgamento, para o narrador, é mais uma formalidade do que um momento de redenção.

O humor ácido se destaca quando, já absolvido e "vestido de branco", o narrador observa do céu a punição dos outros, especialmente da "ingrata" que agora está "trabalhando de salsicha", sendo frita por Satanás. Essa imagem exagerada e cômica ridiculariza a visão tradicional do inferno e serve como uma vingança bem-humorada contra quem o prejudicou em vida. O verso “Ô demônio: capricha!” resume esse desejo de revanche, mas sem peso moral, funcionando apenas como uma piada. Ao usar expressões do cotidiano e inverter os papéis clássicos do julgamento final, Vanzolini questiona valores religiosos e sociais, mantendo o samba como espaço para rir das próprias desventuras humanas.