ROCKET

“ROCKET” e o luto, a rua e a guerra interna de Pedrin

“ROCKET” se apoia numa contradição central: ele diz “Não conto com Deus”, mas, no luto do amigo, admite “Deus te colocou mais perto dele”. Outra chave é “Andar de máscara não é se camuflar”, verso de 2021 que junta pandemia e código da rua: proteção e discrição, não fuga da identidade. A fama que chegou cedo (“Meu deboche é por conta da fama que apareceu cedo”) molda a ironia e a casca grossa, algo que a passagem e a recepção dele na Mainstreet Records também potencializaram. Da Pavuna, ele descreve o crime sem glamour: “Vida do crime não é pra revoltado”, mesmo reconhecendo “Virei revoltado depois que fiz treze”. O luto pesa (“não vou ver mais o neguin”) e vira batalha interna — “a maior vitória... vai ser contra ti”. No meio disso, lealdade e desconfiança viram regra de convivência: “Sei quem tá perto e quem tá do meu lado” e “Nós é pureza sem se misturar”.

As imagens de rua organizam o enredo. “Capotar blazer” sinaliza ousadia contra o sistema (virar ou assaltar carro, inclusive possível referência a viatura). “Pulei na bala” é se colocar no risco pelo seu. “Caiu na rede”, junto de “piranha”, carrega duplo sentido: armadilha do jogo e exposição na internet. O trecho sexual — “depois que eu gozei perdi todo interesse” — reforça a frieza nas relações, alinhada ao desapego afetivo. Dinheiro e sobrevivência entram crus: “acostumado a ser cor e valor”, “aprendendo a girar dinheiro” e “Confesso que o crime também me ajudou” — constatação do que bancou o corre, sem romantizar. “Andar de máscara não é se camuflar” também é estratégia: em 2021, saúde; na pista, cautela e anonimato. No trap de beat pesado (Jess e Houmi), o recado fica direto: um cria da Pavuna que estourou cedo, perdeu um parceiro, aprendeu o preço do gelo no peito e segue buscando respeito e grana, sabendo que a guerra mais difícil é com ele mesmo.