Estâncias
Pierre Simões
Quando à tardinha rumorejam brisas
Roubando o aroma das agrestes flores
E doce e grave, nas viçosas matas
Mais triste canto o sabiá desata
Eu lembro-me de ti!
Eu lembro-me de ti, por que tu’alma
É o sol de minh’alma e de meu gênio
E neste exílio que infernal me cerca
Mísera planta, desfaleço e morro
Ao frio toque de hibernal geada!
Quando das franjas do Ocidente róseo
Um raio ainda me clareia o cárcere
E um tom suave de tristeza e luzes
Mistura o dia à palidez da noite
Eu lembro-me de ti!
Eu lembro-me de ti, porque teu seio
Guarda um tesouro de piedade santa
E nesse instante que o pesar duplica
Faltam-me as vozes de teus lábios meigos
E o doce orvalho de amorosos olhos!
Ai! Tudo os homens entre nós quebraram
A paz, o riso, as esperanças áureas
Mas de teu peito me arrancar não podem
Nem a minh’alma desprender da tua!
Eu lembro-me de ti!
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