Desconstruindo Amélia

Empoderamento feminino e ruptura em “Desconstruindo Amélia”

“Desconstruindo Amélia”, de Pitty, questiona o antigo ideal da mulher submissa, representado pela Amélia da canção de 1942, ao apresentar uma protagonista que cumpre todos os papéis tradicionais – cuida da casa, dos filhos e trabalha –, mas decide romper com a resignação e buscar autonomia. O verso “Nem serva, nem objeto, já não quer ser o outro, hoje ela é um também” deixa claro esse momento de virada, rejeitando a ideia de que a mulher deve ser apenas coadjuvante em sua própria vida. O título da música já indica o objetivo: desconstruir o mito da mulher que se anula pelos outros, destacando a importância da autovalorização e do empoderamento feminino.

A letra também denuncia desigualdades concretas, como a diferença salarial mesmo para mulheres com alto nível de escolaridade: “A despeito de tanto mestrado, ganha menos que o namorado e não entende o porquê”. A sobrecarga de responsabilidades aparece no talento de “equilibrista”. A influência do feminismo e de Simone de Beauvoir se manifesta na crítica aos papéis impostos e na celebração da autodescoberta, como em “Hoje aos 30 é melhor que aos 18 / Nem Balzac poderia prever”, sugerindo que a maturidade traz liberdade e prazer, contrariando expectativas sociais. A música transmite sentimentos de cansaço, inconformismo e, principalmente, libertação, ao mostrar a protagonista finalmente “virando a mesa” e assumindo o controle da própria vida.