Boca Aberta

Crítica ao vazio contemporâneo em “Boca Aberta” de Pitty

Em “Boca Aberta”, Pitty utiliza a imagem da "boca aberta" como uma metáfora clara para a ansiedade e a compulsão que marcam a vida moderna. A artista descreve a alma como um "buraco sem fundo", expressando a sensação de falta constante que leva as pessoas a buscarem satisfação em diferentes áreas, como "deuses", "terapia", "cartão de crédito" e "academia". Pitty já afirmou em entrevistas que até mesmo atividades vistas como positivas podem se tornar prejudiciais quando praticadas de forma compulsiva, transformando-se em armadilhas para quem busca preencher vazios internos.

A letra adota um tom irônico e reflexivo ao listar prazeres e distrações, como "um trago, carros velozes, carinhos fugazes", que proporcionam apenas uma "besta e vã alegria". Essa expressão ressalta a superficialidade e a brevidade dessas satisfações. O refrão “E é sempre essa boca aberta / Tragando tudo pelo caminho” sintetiza a crítica ao imediatismo e ao hedonismo atuais, mostrando que o consumo constante não traz realização verdadeira. O verso “Amanhã, acordo e resmungo / 'Eu quero minha vida de volta'” evidencia o ciclo de insatisfação e arrependimento, reforçando como a busca incessante por prazer imediato pode esvaziar ainda mais o sentido da vida. Assim, “Boca Aberta” apresenta um retrato direto das angústias existenciais do nosso tempo.