Pequena Morte

Desejo, risco e clímax em “Pequena Morte” de Pitty

O título vai direto ao ponto: “pequena morte” é o orgasmo, e a canção trata esse clímax como destino do encontro. Pitty disse que buscou mais o “roll” (balanço) do que o “rock” (peso), com groove de blues e pulso curvilíneo, algo que aparece no refrão ao falar de um final lento e compartilhado: “a pequena morte lenta de nós dois”. Vinda do álbum Setevidas (2014) e nascida de uma demo com Martin Mendonça, a faixa encena desejo, risco e compulsão: “o negócio é se arriscar” mesmo quando “eu tinha prometido não ceder à compulsão”. A imagem “é uma agressão dizer pra um bicho não caçar” coloca o instinto sexual como força difícil de conter, e “você se despe dos costumes” funciona em duplo sentido: largar convenções e tirar a roupa.

A letra constrói cenas sensoriais de aproximação e toque: “sua mão ocupa minha cintura”, “quentura demarcando o lugar”, promessa no olhar, a dança desinibida — “rolando, suando, nunca para de pulsar” — até o arrebatamento do clímax. Quando a pessoa não está, surge o vazio e a fixação: “Desagradável não te ver / Insuportável não te ter”, a ponto de qualquer tentativa com outro não servir: “o que eu queria era colar em você”. O refrão repetido cria urgência e um sentimento de destino, enquanto os imperativos finais — “Pular em você / Subir em você” — deixam o corpo pedindo ação, sem rodeio. No conjunto, prevalece a tensão entre autocontrole e entrega, resolvida no prazer mútuo assumido sem culpa, com cumplicidade “de nós dois”.