Is She Weird

Desejo e controle em “Is She Weird”, dos Pixies: tensão

“Is She Weird”, do Pixies, encena a obsessão do narrador por uma mulher que ele idolatra e teme. O verso “Is she white” (Ela é branca?) soa menos como questão racial e mais como um contraste com a “noite” a que ela seria “prometida”, indicando pureza versus comportamento fora da norma. Ele a descreve com pose sofisticada e sinais de status — “Your car is bitchin’” (Seu carro é irado) —, mas logo cede à insistência do refrão, como quem tenta rotular o que não entende. Já “And her head has no room” (E a cabeça dela não tem espaço) reforça que ela não se molda às expectativas dele nem às regras sociais, o que mistura fascínio e desconforto e desloca o foco: a letra revela mais a ansiedade dele diante do diferente do que quem ela é de fato.

Na segunda metade, aparece a fratura de poder: “No more of this girl cryin’ / I’m here, your big man / You’re mine” (Chega dessa garota chorando / Estou aqui, o seu grande homem / Você é minha) expõe um impulso controlador. “Your heart is ripshit” (Seu coração está furioso) sugere algo indomável; “Your mouth is everywhere” (Sua boca está em todo lugar) pode apontar tanto para alguém falante quanto para um duplo sentido sexual, e “I’m lyin’ in it” (Estou deitado nisso) amplia a ambiguidade. Em “Is she over me / Like the stars and the sun” (Ela está acima de mim / como as estrelas e o sol), “over” admite duas leituras: estar acima/inalcançável e ter superado o relacionamento. Musicalmente, o baixo minimalista e os arpejos tortos de Joey Santiago sublinham a estranheza; o próprio Santiago resumiu: “’Is She Weird’? Sim, ela é, e as guitarras também são. A música é estranha”. Esse traço virou referência a ponto de ser parodiado por “Weird Al” em “First World Problems”. A repetição do refrão martela a ânsia classificatória do narrador, revelando controle e insegurança.