exibições de letras 3.060

Embolada da Caveira

Castanha e Caju

LetraSignificado

    Vem ver, Lucimar
    A noite como está linda
    Eu não tinha visto ainda
    Aquela estrela brilhar

    Vem ver, Lucimar
    A noite como está linda
    Eu não tinha visto ainda
    Aquela estrela brilhar

    Eu vou cantar um trabalho
    Não vou contar rasoeira
    Cantar pra o povo ouvir
    Pra a sociedade inteira
    Vou falar sobre um rapaz
    Que mangava de caveira

    O meu pai sempre dizia
    Que as vezes o homem é chato
    Toma cana, se embriaga
    Joga fortuna no mato
    Que o homem pratica o crime
    Pra depois pagar o pato

    Morava numa cidade
    Um tal de Zé da Piada
    Que tinha um filho solteiro
    Todo cheio de palhaçada
    E o povo já te chamava
    O Capeta da Risada

    Era de uma qualidade
    Que no canto que chegava
    Se fosse pra uma festa
    No lugar que ele habitava
    E se chegasse numa missa
    Com três risadas acabava

    O seu pai sempre dizia
    Meu filho, não tem proveito
    Mangando de todo mundo
    Isso eu num tô satisfeito
    Como é que você se cria
    Tão safado desse jeito?

    Ele dizia: Papai
    Ninguém tira meu valor
    Tomo cana, faço crítica
    Nem me importa, com amor
    Tô grande, faço o que quero
    E dar banana pro senhor

    Aí o rapaz criou-se
    Não parecendo ser gente
    Mangando de todo mundo
    Era seu prazer somente
    Mas deixa que o café dele
    Tava fervendo na frente

    Então o rapaz vivia
    Na farra, na bebedeira
    Mangar de padre, de missa
    De terço e de rezadeira
    Mas um dia ele lascou-se
    Nas unhas de uma caveira

    Ele estava numa venda
    Tomando uma misturada
    Quando olhou, viu um enterro
    Ele deu uma risada
    Disse: Eu vou olhar de perto
    Ver se é solteira ou casada

    Chegou perto do enterro
    Só um chorando ele viu
    Ele disse: Dê licença
    O defunto descobriu
    Quando ele viu o defunto
    Deu um pinote e sorriu

    Um homem lhe respondeu
    Fazer assim não convém
    Respeite que o caso é sério
    Você vai morrer também
    O Capeta perguntou
    Quantos chifres é que ele tem?

    Ali ninguém deu ouvidos
    A pergunta do rapaz
    Disseram: Puxem o caixão
    Com lágrimas sentimentais
    Era um chorando na frente
    E o Capeta rindo atrás

    Entraram no cemitério
    O Capeta acompanhou
    Deixou o caixão com o povo
    Pra outra cova ele olhou
    E foi mangar de uma caveira
    Noutra cova que encontrou

    Quando ele viu a caveira
    Foi logo se divertindo
    Começou jogando pedra
    A pedra saía zunindo
    Era arrodeando a cova
    Dando pinote sorrindo

    Foi dizendo pra caveira
    Eu quero ver tu falar
    Quantos anos tem de morta?
    Ou morresse sem casar?
    Que tu sem me dizer nada
    Tá ruim pra eu adivinhar

    Deu um baque na caveira
    Que a caveira estremeceu
    E disse: Não há quem conte
    Quantas canas isso bebeu
    Se quer ir tomar uma agora
    Vamo, quem paga sou eu

    Ele pegou embolando
    A caveira pelo chão
    Começou jogando praga
    Dando tapinha de mão
    E dizendo: Caveira eu sei
    Que tu foi da raça de cão

    Ainda disse pra caveira
    Quem botou você aqui?
    Quantos anos tem de morta?
    Se é da terra que eu nasci?
    Porque feia igual a tu
    Nesse mundo eu nunca vi

    Ficou mexendo com ela
    Pegou fazendo zoada
    Também fazendo careta
    Dizendo coisa engraçada
    Que uma murrinha dessa
    Vai me matar de risada

    Deu tchau pra caveira e disse
    Tá chegada a minha hora
    Mas se quiser tomar uma
    Vamos comigo lá fora
    Eu pergunto e tu não fala
    Te lasca que eu vou me embora

    Ele disse pra caveira
    Fica aí, na solidão
    Se você quer uma cana
    Aproveita a ocasião
    Que eu estou lhe esperando
    Na passagem do portão

    Ele parou num boteco
    Disse: Bote uma caninha
    O cara encheu o copo
    O gota bebeu todinha
    E viu o grito da caveira
    Só sai se pagar a minha!

    Quando ele viu a caveira
    Com aquele buruçu
    Danou o copo na mesa
    E não pagou nem a pitú
    E disse: O diabo é quem espera
    Pra beber cana mais tu

    O Capeta fez carreira
    E a Caveira acompanhou
    De passo em passo gritava
    Me espera, que eu também vou
    O Capeta com tanto medo
    Que até de sorrir parou

    O Capeta ainda disse
    Aquilo foi brincadeira
    Ela disse: É pra você
    Não mangar mais de caveira
    O Capeta disse: Agora
    Vai ser minha derradeira

    Ele entrou numa mata
    Que só tinha calumbi
    Se escondeu-se numa moita
    Disse: Ela voltou dali
    A Caveira disse: Besta
    Faz tempo que eu tô aqui

    Quando ele viu a caveira
    Embolando feito um ovo
    Ele disse: Tá ruim
    Meu problema eu num resolvo
    Deu um baque na caveira
    E começou correr de novo

    Na frente tinha uma casa
    Numa mata desprezada
    Ele entrou, fechou a porta
    E disse: Aquela malvada
    Não vai saber que eu estou
    Nessa casa abandonada

    Com pouco tempo ele viu
    Uma coisa se arrastando
    Era a Caveira que vinha
    Do quarto se aproximando
    Dizendo: Faz mais de horas
    Que eu tô aqui te esperando

    Quando ele viu a Caveira
    No momento conheceu
    O seu medo foi tão grande
    Que o corpo todo tremeu
    Pendurou-se numa ripa
    Pulou a porta e correu

    O Capeta fez carreira
    Pelo uma serra que tinha
    Na frente ele viu um forno
    De uma casa de farinha
    Disse ele: Eu vou me esconder
    E me livrar daquela tinha

    Entrou debaixo do forno
    Parecendo um marginal
    A Caveira, pelo suspiro
    Entrou no mesmo local
    Bateu na bunda dele e disse
    Foi bom, que cheguemo igual

    Na frente tinha um pé de coco
    Daquele coqueiro baixo
    Ele se trepou em cima
    E se pendurou num cacho
    Disse: Eu vou lascar um coco
    Na cabeça dela, embaixo

    Quando ele ia no meio
    Viu as folhas se bulir
    A Caveira disse: Venha
    Que eu tô te esperando aqui
    O Capeta pulou e disse
    O Diabo é quem vai pra aí

    Na frente tinha uma cerca
    Rodeada de bambu
    O Capeta disse: Agora
    Eu vou me esconder de tu
    Entrou e ficou debaixo
    De um grande pé de cajú

    O Capeta ainda disse
    Ô, canto bom eu achei
    Tenho certeza que ela
    Não viu por onde eu entrei
    A Caveira disse: Trouxa
    Faz é tempo que eu cheguei

    Na frente tinha um riacho
    Com muita água a correr
    O Capeta disse: Agora
    Nessa ponte eu vou descer
    Que eu debaixo da ponte
    Ela passa e não me vê

    O Capeta ainda disse
    Esse canto é bom, que eu acho
    Quando olhou, foi a Caveira
    Pinotada a ponta embaixo
    Dizendo: Eu nunca pensei
    De tomar banho de riacho

    Quando ele viu a Caveira
    Ficou bastante assombrado
    Mergulhou num porão fundo
    Dizendo: Eu tô acabado
    Só sei dizer que o Capeta
    Findou morrendo afogado

    A Caveira disse: Agora
    Tu não manga de ninguém
    Tu vai lá pra o cemitério
    Que lá tem lugar pra cem
    Tu mangasse de caveira
    E já soi caveira também

    Disse a Caveira: Se alguém
    Perguntar quem te matou
    Você diga: Foi a língua
    Pelo mau que praticou
    E o que eu queria já fiz
    Te lasca que eu já me vou

    Vem ver, Lucimar
    A noite como está linda
    Eu não tinha visto ainda
    Aquela estrela brilhar

    Vem ver, Lucimar
    Olhar a noite como está linda
    Eu não tinha visto ainda
    Aquela estrela brilhar


    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Castanha e Caju e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção