Peculato

Crítica social e resistência em "Peculato" de Prodigio

Em "Peculato", Prodigio faz uma crítica direta à hipocrisia do sistema judicial e político, destacando como a justiça é seletiva e favorece os mais poderosos. Ao afirmar “um roubo só é um roubo quando quem rouba é pobre”, ele evidencia a diferença de tratamento entre crimes cometidos por pessoas comuns e aqueles praticados por figuras influentes, como diretores de bancos e primeiros-ministros, que muitas vezes ficam impunes. O uso do termo "peculato" — desvio de recursos públicos por funcionários do governo — reforça a denúncia da corrupção institucionalizada e da desigualdade social. Prodigio também aponta como o povo trabalha “tipo escravos pra pagar impostos”, enquanto o dinheiro público é mal utilizado pelo Estado, mostrando o ciclo de exploração e injustiça.

A música traz ainda um tom de sobrevivência, mostrando que, diante de um sistema injusto, muitos acabam adotando estratégias semelhantes às dos corruptos para garantir o próprio sustento. Quando Prodigio diz “Como o governo rouba, eu copio e capto / Então quando eu roubar, não é roubo, mano, é peculato”, ele ironiza a normalização do desvio de conduta entre os poderosos e sugere que o cidadão comum também se sente tentado a agir assim. A referência à Linha de Sintra aproxima a crítica da realidade de jovens periféricos, que buscam alternativas para prosperar em um ambiente de poucas oportunidades. Prodigio ainda critica a superficialidade da nova geração do hip-hop, mas reforça sua luta por autonomia e dignidade: “Se não me convidarem praa mesa, mano, eu faço a minha mesa”. No final, ele deixa claro que seu objetivo não é o sonho americano, mas sim garantir uma vida melhor para si e sua família, mesmo que isso signifique desafiar as regras de um sistema corrompido.