Sei Lá

Desafios de pertencimento em "Sei Lá" de Prodigio

A música "Sei Lá", de Prodigio, aborda de forma direta a sensação de incerteza e cansaço vivida por imigrantes africanos em Portugal. O artista destaca a contradição entre o acolhimento aparente do país e as barreiras reais para o pertencimento, como no verso “Nos tratou como filhos mas não nos deu bilhetes de identidade”. Aqui, Prodigio denuncia a dificuldade de acesso à cidadania plena, mesmo para quem nasce em solo português, e relaciona essa experiência à sua própria trajetória, ao mencionar a decisão de deixar um emprego estável em Londres para seguir a carreira musical, recusando-se a aceitar um papel limitado na sociedade: “um preto de sala”.

A letra traz referências marcantes para ilustrar as nuances do pertencimento. Ao citar Éder, autor do gol decisivo para Portugal na Euro 2016, e Deco, brasileiro naturalizado português, Prodigio mostra que o reconhecimento só acontece quando o país precisa, como em “É só o país precisar de ti pra teres os docus tipo o Deku”. O refrão “Mas eu não sei, eu sei lá” reforça o tom de desabafo e a falta de respostas diante das angústias da comunidade. O rapper também reflete sobre dificuldades econômicas, pressão para se adaptar e o enfrentamento do preconceito, sem deixar de reconhecer que, apesar das críticas a Portugal, a situação em Angola pode ser ainda mais difícil. Assim, a música se torna um retrato sincero da busca por dignidade, pertencimento e esperança, mesmo quando as respostas parecem distantes.