This Is Hardcore

Sexo, fama e performance em “This Is Hardcore” do Pulp

Em This Is Hardcore, o sexo vira manual de procedimento: ação, posição, corte — uma coreografia do desgaste. O narrador é diretor e mercadoria ao mesmo tempo, usando a pornografia para expor a fama como espetáculo repetitivo do qual não há volta. Jarvis Cocker contou que a inspiração veio de ver pornografia em turnês; na letra isso surge como confissão fria: ele “Put your money where your mouth is” (Pague pelo que promete), pede “leave your make-up on and I’ll leave on the light” (deixe a maquiagem e eu deixo a luz acesa) e só enxerga a próxima cena. O comando “Action” (Ação!) liga a câmera. “You can’t be a spectator” (Você não pode só assistir) força o outro a entrar no roteiro. “This is me on top of you” (Sou eu por cima de você) afirma sexo e poder — sobre o parceiro, a plateia e um mercado que transforma intimidade em produto. “There is no way back for you” (Não há caminho de volta para você) sela a perda de inocência e a captura pelo circuito da fama.

“This is the eye of the storm” (Este é o olho do furacão) congela o clímax como centro do furor: pico de carreira e da cena sexual, vendido como pureza porque sobrou só a mecânica. Os “men in stained raincoats” (homens de capas de chuva manchadas) apontam o público voyeur; “Oh, that goes in there… and then it’s over” (Ah, isso vai aí... e então acaba) expõe o processo industrial. “I’ve seen the storyline played out so many times before” (Já vi essa trama se desenrolar tantas vezes antes) conecta pornografia e fórmula do showbiz, culminando em “What exactly do you do for an encore?” (E exatamente o que você faz no bis?). O clipe de Doug Nichol encena esse glamour podre com números à la Busby Berkeley, sorrisos congelados e penas. A capa concebida por Peter Saville e John Currin, com femininos exagerados, sublinha a objetificação. A produção — loops de bateria, piano lounge e cordas cinematográficas — erige um cabaré arruinado que já foi descrito como possivelmente o single mais assustador de um artista comercial. O preço é a exposição total: desejo virado rotina pública e um show que precisa continuar mesmo sem nada novo a entregar.