Doce

“Doce”: amor que adoça a rua dura e acende o desejo

Em “Doce”, a doçura não é só romance; vira antídoto contra a dureza da rua. O amor se mistura a outros “baratos” — do cheiro de “juana” ao torpor do sexo — e cria a embriaguez que combina com o espírito de “Rataria Popular Brasileira”, onde o Puro Suco transforma o trampo diário em festa. O refrão “Só de ver teus olhos tudo fica bem mais doce” sustenta essa virada de chave: a presença dela muda a temperatura do mundo. O perrengue diminui em versos como “o mundo eh cão e a bala zoa / mas quando eu tô contigo isso eh porra nenhuma”. Até a malandragem cede: “o bom malandro se entortou na velha malandragem do amor”, prometendo pixar o nome da amada “entre os dedos do tal Cristo Redentor” — hipérbole que sinaliza entrega total.

A letra cozinha essa doçura em imagens sensoriais e de duplo sentido. “Cresço” e “aduba” unem amadurecimento afetivo e tesão; “uvas”, “vinho” e “caxo” formam um campo de colheita e fermento que vira tanto sexo (“o vinho da tua vulva”) quanto criação artística (“colho a estrofe do caxo, pra botar no meu suco”), trocadilho que dialoga com o nome da banda. O vulcão de “poder de vesúvio”, a Lua e o uivo intensificam a paixão em erupção. Já o contraste “sua arquitetura” versus “curvatura da sua cintura” mostra a conversa intelectual cedendo lugar ao corpo, sem perder a ternura: “minha caneta é uma bazuca, mas se é sobre você ela vira pluma”. No fim, “Doce” narra um malandro quebrado que encontra numa mulher-gata um abrigo que também é fogo: ela adoça, embriaga, faz crescer e complica — a doçura complexa no centro da música.