Dragon Attack

“Dragon Attack”: desejo, vício e noite em alta tensão

Em “Dragon Attack”, do Queen, a imagem de “dragon on my back” (dragão nas minhas costas) tem duplo sentido: o peso de uma obsessão e a adrenalina que vicia. Os “quartos” cromáticos — “red’s all red” (tudo está vermelho) e “green’s all green” (tudo está verde) — funcionam como cenários de fuga, onde desejo e risco se confundem. O narrador quer se perder no som e no calor do momento, como em “Take me to the room where the beat’s all round / Gonna eat that sound” (Leve-me para o quarto onde a batida está por todos os lados / Vou devorar esse som). Há também a distorção de valores noturna em “Black’s all white and the white’s all black” (o preto vira branco e o branco vira preto). E quando surge “She don’t take no prisoners / She gonna give me the business” (Ela não faz prisioneiros / Ela vai pegar pesado comigo), “the business” aponta tanto para dominação sexual quanto para pressão dura — da noite ou do próprio meio do entretenimento. O “dragon attack” é o ápice dessa compulsão que não dá trégua.

Musicalmente, a fusão de rock e funk que Brian May burilou em The Game (1980) sustenta o pulso físico da faixa, dando verossimilhança a versos como “Gonna use my stack… get me on the track” (Vou usar meu stack... me coloquem na faixa) — o guitarrista pronto para ligar os amps e entrar na jogada. “Chained to the rack” (Acorrentado ao aparelho de tortura) reforça a ideia de estar preso ao ciclo, seja a um vício (em gíria, “dragon” também remete à dependência) ou à engrenagem do show. Não à toa, “Dragon Attack” virou destaque ao vivo, como no Milton Keynes Bowl (1982), lançado em Queen on Fire – Live at the Bowl, em que “Show time / Show down” (Hora do show / Confronto final) soa como autocomentário de arena. A tensão entre prazer e obsessão ajuda a explicar o alcance da música, regravada até pelo Testament, do thrash metal.