Myxomatosis

Crítica à manipulação e alienação em “Myxomatosis” do Radiohead

O título “Myxomatosis” já indica o tom crítico da música do Radiohead. A doença, que devastou populações de coelhos no Reino Unido, é usada como metáfora para mostrar como ideias e individualidades podem ser destruídas por forças externas de manipulação e controle. O verso “But it got edited fucked up / Strangled, beaten up / Used as a photo in time magazine / Buried in a burning black hole in devon” (“Mas foi editado todo ferrado / Estrangulado, espancado / Usado como foto na revista Time / Enterrado em um buraco negro em chamas em Devon”) reflete a experiência de Thom Yorke, que já relatou ter suas ideias distorcidas para se encaixar em interesses de outros, mostrando como a expressão pessoal pode ser mutilada pelo sistema midiático ou social.

A imagem do “mongrel cat” (“gato vira-lata”) que retorna “holding half a head” (“segurando meia cabeça”) simboliza alguém que, mesmo buscando liberdade, volta fragmentado, tendo perdido parte de si no processo. Esse sentimento de alienação é reforçado pelo refrão “I don't know why I feel so tongue-tied” (“Não sei por que me sinto tão travado”) e “I feel so skinned alive” (“Me sinto esfolado vivo”). A referência direta à doença, “I twitch and I salivate / Like with myxomatosis” (“Eu me contorço e salivo / Como com mixomatose”), sugere vulnerabilidade e descontrole, como se o personagem estivesse à mercê de algo que o consome por dentro, incapaz de se comunicar plenamente.

O tom irônico aparece em “Now no one likes a smart arse but we all like stars” (“Ninguém gosta de um sabichão, mas todos gostam de estrelas”), criticando a superficialidade da sociedade que rejeita quem pensa diferente, mas idolatra celebridades. Assim, “Myxomatosis” expõe de forma direta o impacto da manipulação, da alienação e da perda de autenticidade, usando a doença como metáfora para mostrar como o indivíduo pode ser silenciado e deformado por pressões externas.