R.A.M.O.N.E.S.

“R.A.M.O.N.E.S.” como hino de identidade e legado punk

“R.A.M.O.N.E.S.” nasceu como tributo do Motörhead e os Ramones a transformaram em hino próprio, virando elogio em autoafirmação. Lançada no álbum 1916, do Motörhead, a faixa tem formato 100% ramônico: curta, veloz e direta. A admiração era mútua: Joey Ramone chamou a canção de “a maior honra”, e a banda passou a tocá-la sempre — inclusive no último show, com Lemmy Kilmister no palco. Eles ainda registraram duas versões de estúdio, uma com C.J. e outra com Joey nos vocais, selando a música no catálogo dos Ramones. O legado se expandiu com covers de grupos como The Huntingtons e Groovie Ghoulies.

Na letra, a identidade punk aparece em slogans, locais e nomes. “New York City N.Y.C.” (Nova York, N.Y.C.) fixa a origem. “Black leather, kneehole pants” (couro preto, calças com buracos nos joelhos) e “Fuzz tone” (distorção fuzz) definem uniforme e timbre cru. “Can’t play no high school dance” (não podemos tocar em baile de colégio) rejeita o circuito comportado. “Misfits, twilight zone” (desajustados, Além da Imaginação) crava o lugar dos excluídos e pisca ao imaginário de filmes/séries B — possivelmente também à banda The Misfits. “Gabba gabba hey” (gabba gabba hey) convoca o grito de guerra de “Pinhead”. A chamada de “C. Jay... Marky... Johnny... Tommy” abarca fases diferentes; “Bad boys then, bad boys now” (caras maus então, caras maus agora) marca continuidade; “Good music save your soul” (boa música salva sua alma) funciona como credo simples. “Dee Dee, he left the home / Joey call me on the phone” (Dee Dee, ele saiu de casa / Joey me ligou no telefone) junta a saída de Dee Dee à ideia de família ampliada. Não há narrativa linear: é manifesto de pertencimento e resistência, feito para coro — por isso funcionou tão bem na própria voz dos Ramones quanto na homenagem original.