Maluco da Ponte
Raphael Nercessian
Entra ano
Sai ano
E ele continua ali
Tão sujo que se confunde
Com seu lar-doce-lixo
Ele nos vê de longe
Mas um Maluco da Ponte
Se põe a reclamar
Se embaixo de cada uma
Não moram uma ou mais famílias
Porque as pontes não têm banheiros e quartos?
Fiquei inerte olhando os pássaros
Voando em torno da sorte fatal
Descobrindo o chique e o cruel
Não vejo a pessoa normal
E o futuro está acanhado
De exibir a riqueza dos cofres
Infestados de barris de pólvora
Se caminha com cuidado
Pra não perder a sua, o céu e os seus
À noite passa o trinco
Que nem abrigo nuclear
Sem saber se o inimigo
Está dentro de casa
Mas um Maluco da Ponte
Se põe a reclamar
Se em toda ponte mora gente
Porque as pontes não têm banheiros e quartos?
Banheiros e quartos
Quartos
Banheiros e quartos
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