Colo de Menina

Ruptura afetiva e xote em “Colo de Menina” do Rastapé

A tensão entre “colo de mamãe” e “colo de menina” não é só trocadilho; marca a passagem da proteção infantil para um amor adulto, carnal e escolhido. O eu lírico aparece inquieto e sem rumo — “O som ligado e fico perturbado / Sem ter o que fazer” — e decide romper a rotina investindo na conquista. No refrão, “Não quero, não, colo de mamãe / Só quero colo de menina” condensa o gesto de ruptura: trocar o conforto materno por um abraço romântico, físico e afetivo, com a promessa paciente de “pouco a pouco conquistar teu coração”. O xote não fica no fundo; ele guia a estratégia de sedução: dançar, cantar e falar de amor como caminho de mudança.

A ambientação é explícita: “Vou para um lugar que lembre do sertão / E canto xote pra te convencer”. O cenário do interior e o ritmo tradicional nordestino reforçam a sedução direta, de terreiro e festa. “Vou te ensinar como viver é bom” propõe partilhar prazeres simples, enquanto “amar até quando Deus quiser” amplia o desejo para um vínculo duradouro, afinado com a fé popular. Lançada no álbum “Fale Comigo” (2000), “Colo de Menina” projetou o Rastapé no forró universitário e, ao integrar a trilha de “As Filhas da Mãe”, levou essa mistura de maturidade afetiva e nostalgia do sertão ao país inteiro — prova de como o xote pode ser, ao mesmo tempo, dança, declaração e rito de passagem.