Trap (part. Dfideliz, MC Igu, Jé Santiago e Derek)

Contradições e pressões em “Trap (part. Dfideliz, MC Igu, Jé Santiago e Derek)”

Em “Trap (part. Dfideliz, MC Igu, Jé Santiago e Derek)”, do Recayd Mob, a expressão repetida “escravos do trap” destaca uma ironia central: apesar de ostentarem correntes de ouro e roupas de grife, os artistas reconhecem que o próprio luxo e a busca constante por sucesso acabam se tornando uma prisão. O duplo sentido das “correntes” — símbolo de riqueza e, ao mesmo tempo, de escravidão ao ritmo e à cultura do trap — aparece nos versos “Tanta corrente, escravos do trap / Gang-gang, 213, my niggas, no cap”.

A letra mistura ostentação, festas e consumo de drogas com referências diretas à realidade difícil das ruas, como em “Lá no morro tem os moleque' novo' / Com fuzil novinho, sem ter nem chinelo”. Esse contraste evidencia o abismo entre o glamour do trap e as origens humildes dos artistas, além de abordar a violência e as perdas frequentes: “Quantos deles eu nem vi crescer? / Nem viver, só esperar morrer”. O refrão “Pra quem vive, eu dou amém / Pros trancado', eu dou amém / Pros que foram, eu dou amém” expressa respeito e solidariedade tanto aos que seguem na luta quanto aos que já se foram ou estão presos, reforçando a ligação com a comunidade e a consciência das dificuldades enfrentadas.

As menções a marcas como Gucci, VLONE e Fendi, além de carros e festas, servem para afirmar status, mas também denunciam a pressão de manter esse padrão. Ao mesmo tempo, a música critica os “fake trap” e a superficialidade de quem tenta imitar o estilo sem conhecer sua realidade. Assim, a faixa vai além da ostentação, expondo as contradições, riscos e o peso emocional de quem vive do trap no Brasil.